Caros amigos
Retomando o trabalho de produção e divulgação de informações neste blog, não poderia ser mais oportuno recomeçar esta etapa sem trazer à luz do debate a provocação explicitada neste vídeo pela Professora Amanda Gurgel do Estado do Rio Grande do Norte.
Em uma audiência pública sobre o cenário da educação do Estado do Rio Grande do Norte com a presença de deputados e da própria secretária de educação, esta ilustre Professora nos dá uma lição de cidadania.
Usando do direito democrático que lhe confere, denuncia publicamente o descaso do poder público de seu Estado com o trato aos profissionais de educação e defende com muita lucidez o que falta em nossos políticos quando decidem sobre as políticas públicas.
Não é preciso esmiuçar o contexto em que a cena se passa, mais que atual, ela aviva nossa memória de anos, digo em letras garrafais: ANOS DE ESPERA E ESPERANÇA DE DIAS MELHORES PARA OS PROFISSIONAIS DE EDUCAÇÃO DESTE PAÍS, lembra-nos das incontáveis greves e paralisações por melhores condições de trabalho, salário e dignidade.
Manifestações legitimadas pela constituição federal, muitas vezes sufocada com truculência da força do aparato de segurança dos poderes executivos, desacreditada pela opinião pública e maldosamente manipulada pela mídia.
É neste sentimento de baixa auto estima que situo o panorama dos profissionais da educação pública socialmente construída, ou destruída, que coloca o professor e a professora como vilões do precário desenvolvimento da aprendizagem e insucesso da escolaridade dos alunos.
Não é um discurso isolado nem regionalista, é um discurso nacional, que ecoa em todos os cantos da federação e traduz o sentimento que nós profissionais temos dos nossos políticos e legisladores.
A fala e os argumentos da Professora Amanda Gurgel, e digo Professora com “P” maiúsculo, reflete a mesa angústia, dificuldade, carência, desejo e frustração que qualquer um de nós, no exercício da profissão está submetido.
Tomando como exemplo sua fala percebo que esta cabe em qualquer plenária de discussão de projetos e leis da educação nas câmaras de vereadores ou assembléias legislativas de qualquer Município ou Estado brasileiro.
Após a promulgação do piso nacional de salário para o professor, Lei 11738, decretada pelo governo federal em 2008 e considerada constitucional pelo Supremo Tribunal em abril de 2010, vários Municípios e Estados recorrem da citada Lei alegando incapacidade financeira para arcar com a proposta de balizamento dos salários dos seus professores aos patamares estabelecidos, ou seja, R$ 1.187,97 por 40 horas semanais de jornada docente. Não muito além do que mostrou a Professora Amanda Gurgel em seu holerite.
O que presenciamos, vergonhosamente, não é novidade com as manobras que concretizam aumento de salários e subsídios de gabinete de políticos mais facilmente do que cumprir a lei, ou as incontáveis promessas de melhoria do salário da categoria dos profissionais de educação traduzidas em GRATIFICAÇÕES, BONIFICAÇÕES E PRÊMIOS.
Igualmente, estes mesmos legisladores não são eficientes e sinceros com a opinião pública na transparência da aplicação das verbas destinadas à educação chegando ao extremo de alguns municípios devolverem recursos do FUNDEB ao governo federal por incapacidade ou improbidade na gestão.
Qual terá sido a proposta de campanha destes que hoje ocupam os cargos executivos e legislativos nos Municípios e Estados? Alguém lembra?
O que acontece na vida política do país após o fechamento do pleito é o que temos de herança das velhas oligarquias: Pão e circo antes, migalhas e descaso depois.
Meus cumprimentos a esta brava Professora que não se intimida em denunciar o caos em que se encontra a docência do ensino público em seu Estado e no país.
Se abrirmos as páginas de um jornal qualquer para concursos constataremos editais para ingresso de cargos administrativos e burocráticos nos órgãos públicos, exigindo formação superior com substanciosos salários, comparados aos salários oferecidos no mesmo jornal em editais destinados aos cargos de professores, cuja formação dos candidatos, em muitos casos, superam a formação de mestrado.
Isto, em parte, explica o fenômeno da migração de profissionais da educação para outras esferas de atuação profissional pela necessidade de sobrevivência e pela sedutora atração custo benefício.
Espero que a educação não sofra do mesmo mal que abate sobre o sacerdócio e o ingresso de novas missionárias nos quadros da igreja. Quem hoje quer ser padre? Quem hoje quer ser freira? Eu não quero fazer essa pergunta para o caso dos professores!
Oxalá, que ela contamine outros a fazerem o mesmo: sair da toca, mexer o traseiro, botar a boca no trombone, apontar o dedo em riste na cara dos maus legisladores, dar a cara à tapa sem medo de ser julgada, mal interpretada ou receber críticas dos que alimentam inverdades, difamam, mentem, ludibriam e manipulam a opinião pública.
Viva a Professora Amanda Gurgel!
Ela merece reconhecimento pela coragem, sensatez e exemplo de cidadania.
Vladimir Petcov
Pedagogo - Professor Pesquisador
vladimirpetcov@hotmail.com
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Eu AINDA tenho orgulho em dizer que sou professora, porque tenho isso bem resolvido dentro da minha cabeça. Sei o que significa como disse a Profª. Amanda em sua fala "redentor deste país", e sei também que muitos compartilham desse sentimento, mas posso garantir a qualquer um que esteja lendo estas palavras e mais especificamente quem não é professor, que é difícil... Muito difícil ser professor neste país.
ResponderExcluirNão vou entrar em detalhes já tão bem esclarecidos aqui anteriormente, mas se não tivéssemos uma ideologia e um compromisso com o educar e cuidar, com certeza já não teria mais professores na rede pública. Torço e espero que isso mude e mude logo, não podemos esperar mais, não podemos fazer com que o Brasil do futuro espere mais.
Ana Lúcia
Profª PMSP